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quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Nicolau II - A biografia (1ª parte)

Nicolau Alexandrovich Romanov nasceu a 18 de Maio de 1868 e foi o último czar da Rússia, rei da Polónia e grão-duque da Finlândia. O seu título oficial era Nicolau II, imperador e autocrata de Todas as Rússias e, hoje em dia, é um dos santos da Igreja Ortodoxa.

Nicolau II
Nicolau II governou desde 1894 até à sua abdicação em 1917. Provou ser incapaz de governar um país em tumulto político e de comandar o seu exército durante a Primeira Guerra Mundial. O seu reinado terminou com a Revolução Russa de 1917 durante a qual ele e a sua família foram presos, primeiro no Palácio de Alexandre em Czarskoe Selo, depois na mansão do  governador em Tobolsk na Sibéra e, finalmente, na casa Ipatiev em Ecaterinburgo onde a família acabaria por ser executada pelos bolcheviques na noite de 16 para 17 de Julho de 1918. Durante o seu reinado, Nicolau recebeu o cognome de Nicolau, o Sangrento devido aos trágicos acontecimentos durante a sua coroação, ao episódio do Domingo Sangrento e a subsequente repressão do seu governo ao movimento socialista. É também conhecido por ocupar o terceiro lugar na lista de pessoas mais ricas da História com uma fortuna avaliada em 253.5 mil milhões de dólares .


Nicolau nasceu em Czarskoye Selo, o primeiro filho do Imperador Alexandre III e da sua esposa Maria Feodorovna, Princesa Dagmar da Dinamarca. Os seus avós paternos eram Alexandre II da Rússia e a sua primeira esposa Maria Alexandrovna, Princesa de Hesse-Darmstadt. Os seus avós maternos eram Cristiano IX da Dinamarca e Luísa de Hesse-Cassel.
Nicolau II, foto tirada durante a sua infancia 

Desde sempre uma criança sensível, Nicolau sentia receio da força e estatura do seu pai, Alexandre III, apesar de o adorar e falar dele com saudade em cartas e diários depois da sua morte. Apesar de tudo era mais próximo da sua mãe. Nicolau tinha três irmãos: Alexandre (1869-1870), Jorge (1871-1899) e Miguel (1878-1918) e duas irmãs: Xenia (1875-1960) e Olga (1882-1960).

Nicolau II (2º da esquerda) com o pai, a mãe e os irmãos
Nicolau tornou-se czarevich inesperadamente no dia 1 de Março de 1881 quando o seu avô foi assassinado num atentado bombista em São Petersburgo, sendo sucedido por Alexandre III. Nicolau tinha 12 anos e entrou na sala do Palácio de Inverno onde o seu avô pálido estava deitado à espera da morte e o seu pai ordenou-lhe que se sentasse na ponta da cama a observá-lo. A sua mãe, que tinha estado a patinar no gelo, chegou ainda com os patins calçados, movimentando-se com dificuldade. O seu pai ficou paralisado do lado de fora da janela, a tremer nervosamente até o médico anunciar a morte do czar libertador.

Nicolau (à frente) com três dos seus primos britânicos, as princesas Vitória e Luísa e o príncipe Alberto Vitor.

Muito se tem escrito sobre o luxo e opulência da vida dos Romanov. De facto, a corte era deslumbrante, mas o esplendor não chegava aos aposentos das crianças. No Palácio de Inverno, em Czarskoe Selo, Gatchina e Peterhof, foi possível visitar esta área até 1922 e constatou-se que as crianças dormiam em camas amovíveis com almofadas duras e colchões finos. O chão era coberto com uma carpete modesta e não existiam cadeiras nem sofás, sendo que a única mobília da divisão eram alguns bancos, pequenas mesas e estantes onde se guardavam livros e brinquedos.

O único pormenor rico era apenas visível numa das paredes onde estava pendurada uma imagem da Virgem de Kasam rodeada de pérolas e pedras preciosas. A comida era muito simples e, desde os dias de Maria Alexandrovna, esposa de Alexandre II, os costumes ingleses foram introduzidos: papas de aveia para o pequeno-almoço, banhos frios e muito ar fresco. Ao almoço, Nicolau e os irmãos juntavam-se aos seus pais na refeição onde havia mais fartura, no entanto, as crianças eram as últimas a ser servidas depois de todos os convidados presentes e ainda tinham de sair da mesa assim que o seu pai se levantasse, o que acabava por fazer com que ficassem com fome.
 
Nicolau (no centro) com a sua mãe Maria, o tio Valdemar da Dinamarca, a tia Olga, rainha da Grécia, o irmão Miguel, o irmão Jorge e a prima Alexandra da Grécia
Um dia, durante uma das longas celebrações pascais que a família tinha de frequentar, um Nicolau esfomeado aproveitou um crucifixo que trazia ao pescoço desde o nascimento que tinha uma amostra de cera dentro. “O Nicky estava com tanta fome que abriu a cruz e comeu tudo o que estava lá dentro, incluindo a relíquia que estava escondida na cera”, recordou a sua irmã Olga.

Nicolau passou a maior parte da sua infância no Palácio de Gatchina, cerca de 64 quilómetros a oeste de São Petersburgo, perto de Czarskoe Selo. Gatchina tinha 900 divisões e era o palácio preferido de Alexandre III que possuía ainda palácios em Peterhof, Czarskoe Selo, Anitchkov, Moscovo e em Livadia, na Crimeia.

O czarevitch foi educado por tutores. Havia tutores de línguas, de geografia e ainda um tutor de dança que usava luvas brancas e exigia que uma grande jarra de flores estivesse sempre presente quando ele tocava piano. De todos os tutores, o mais importante foi Constantino Petrovich Pobesdonostsev, um filósofo.

Nicolau (1º da direita) com os irmãos Jorge, Xenia e Miguel
Em vários aspectos, a educação de Nicolau foi excelente. Tinha uma memória extraordinária, o que o tornava um excelente aluno em História, falava Francês, alemão, e o seu inglês era de tal forma perfeita que poderia ter enganado qualquer professor de Oxford e fazê-lo acreditar que era inglês. Era um bom cavaleiro, dançarino e excelente com armas. Desde cedo foi ensinado a manter um diário e, ao estilo de infindáveis príncipes e cavalheiros da época, registava fielmente, dia após dia, o estado do tempo, o número de pássaros que tinha morto e os nomes daqueles que o acompanhavam em passeios e jantares.


Nicolau, na sua juventude
Em Maio de 1890, alguns dias antes de completar 22 anos, Nicolau escreveu no seu diário: “Hoje terminei definitivamente a minha educação.” A maioria do tempo de Nicolau era passado sem fazer nada de importante. A função principal do czarevich, assim que terminava a sua educação e chegava à idade adulta, era esperar o mais discretamente possível pela sua vez para subir ao trono. Em 1890, Alexandre III tinha apenas 45 anos e esperava-se que continuasse a ocupar o seu lugar por mais 20 ou 30  anos, por isso, apesar de duvidar da capacidade do filho em assumir as suas responsabilidades, não fez grande coisa para o preparar. Nicolau aceitou alegremente o papel de “playboy” para o qual tinha sido designado. Por vezes o seu pai obrigava-o a assistir a reuniões do Concelho Imperial, mas os seus olhos estavam presos no relógio e, na primeira oportunidade, fugia.

Nicolau II
Tratado de “Nicky” pela sua família e amigos mais próximos, o czarevich apaixonou-se pela princesa Alix de Hesse-Darmstadt, neta da rainha Vitória de Inglaterra, em 1884, durante o casamento do tio de Nicolau, Sérgio Alexandrovich, com a irmã de Alix, Isabel. Ele tinha 16 anos e ela apenas 12. Os dois voltariam a encontrar-se em 1889, quando ele tinha 21 e ela 17. Ele levou-a a patinar no gelo e os dois encontraram-se em vários bailes e jantares. Depois de ela deixar São Petersburgo, ele afirmou que, se Alix o rejeitasse, ele nunca se casaria. Os seus pais, no entanto, não aprovavam este romance, na esperança de cimentar a nova aliança entre a Rússia e a França casando o seu filho com a princesa Helena, filha do conde Filipe da Casa de Orléans.

Nicolau e Alexandra em 1894
Como czarevich, Nicolau viajou bastante. Durante uma viagem ao Império do Japão, sofreu uma tentativa de assassinato falhada com um sabre, que lhe deixou uma cicatriz na testa. A reacção rápida do seu primo, o príncipe Jorge da Grécia e da Dinamarca, que evitou um segundo golpe com a sua bengala, salvou-lhe a vida. O motivo para esta tentativa de matar o herdeiro ao trono russo, foi o facto de o homem se sentir ofendido por um estrangeiro estar a visitar um templo sagrado que nunca antes tinha aceitado a entrada de alguém de outra religião. O incidente teve um efeito histórico infeliz em Nicolau que passou a odiar o Japão e acabaria por entrar em guerra com o país entre 1904-1905.

Nicolau II com o seu irmão Jorge Alexandrovich e o primo, o príncipe Jorge da Grécia e Dinamarca, durante a sua digressão pelos países orientais de 1890-91
Nicolau ficou noivo de Alix de Hesse em Abril de 1894. Inicialmente teve alguns problemas para a convencer a tornar-se sua noiva, uma vez que uma imperatriz da Rússia tinha de se converter à Igreja Ortodoxa Russa, e Alix era luterana. Eventualmente, no entanto, a paixão de Alix por Nicolau venceu e o noivado tornou-se oficial a 8 de Abril de 1894. Alix converteu-se em Novembro desse mesmo ano e mudou de nome para Alexandra Fedorovna.

Ao longo de 1894, a saúde de Alexandre III foi-se deteriorando inesperadamente. Esperando viver mais 20 ou 30 anos, Alexandre não deu a educação política que pretendia ao seu filho, o que resultou no fraco interesse de Nicolau pelos assuntos imperiais. Apesar de ser uma criança educada e encantadora, sempre mostrou falta de interesse ou curiosidade nas lições dos tutores. Mesmo quando Alexandre tentou introduzir o filho nos assuntos do Estado, Nicolau perdeu o interesse depois de passar vinte minutos nas sessões do conselho e saiu para ir ter com os seus amigos aos cafés. Alexandre morreu aos 49 anos em 1894 devido a uma doença de rins. Nicolau sentiu-se tão pouco preparado para os seus deveres que terá perguntado ao seu primo o que iria acontecer consigo e com a Rússia agora que chegara a sua vez de governar. Apesar de tudo, decidiu manter a política conservadora do seu pai.

A coroação de Nicolau II e Alexandra Feodorovna em 1896

O casamento de Nicolau e Alexandra, planeado para a Primavera seguinte, foi antecipado por insistência de Nicolau. Sufocado pelo peso do seu novo cargo, o czar não tinha intenções de permitir que a única pessoa que lhe dava confiança o abandonasse. O casamento foi celebrado no dia 26 de Novembro de 1894. Alexandra usou o vestido tradicional das noivas Romanov e Nicolau levou o seu uniforme. Poucos minutos antes da 1 da tarde, os dois tornaram-se marido e mulher numa união que se manteria forte até à morte de ambos.

Alexandra

Apesar de uma visita ao Reino Unido antes da sua coroação onde observou a Câmara dos Comuns em debate e pareceu bastante impressionado pela forma como funcionava a Democracia, Nicolau virou as costas a qualquer ideia de partilhar o seu poder com algum órgão do género na Rússia. Pouco depois de subir ao trono, um grupo de camponeses e trabalhadores de vários pontos do país foram até ao Palácio de Inverno pedir algumas reformas constitucionais. Apesar de os seus pedidos lhe terem sido entregues por escrito, Nicolau limitou-se a juntá-los aos muitos papéis da secretária, furioso pela sua ousadia e ignorando os conselhos da família para lhes prestar a devida atenção: “… chegou-me aos ouvidos que durante os últimos meses, se têm ouvido vozes daqueles que têm o sonho sem sentido de que os zemstvos (concelhos do povo) seriam chamados para participar na governação do país. Quero que todos saibam que vou dedicar toda a minha força para manter, para o bem da nação, o principio de autocracia tão forte como o meu pai o deixou.” Estas palavras deixaram perplexos todos quantos as ouviram e resultaram na destruição da popularidade do novo czar e da esperança de uma mudança pacífica na Rússia.

Apesar destas palavras fortes, Nicolau era tímido na presença de membros mais velhos da sua família. O seu cunhado, o grão-duque Alexandre Mikhailovich, escreveu mais tarde que, “Nicolau II passou os seus primeiros 10 anos de reinado sentado atrás de uma grande secretária no Palácio e a ouvir com pouca atenção o discurso bem ensaiado dos seus tios violentos. Atreveu-se a ficar sozinho com eles… Eles queriam sempre alguma coisa.

Nicolau e Alexandra com outros membros da família Romanov

O choque entre a Rússia e o Japão foi quase inevitável no inicio do século XX. A Rússia tinha-se expandido para o Oriente e as suas pretensões territoriais colidiam com as pretensões japonesas na China. A Guerra começou em 1904 com um ataque surpresa à frota russa no Porto Artur, que incapacitou a marinha russa no Oriente. A frota báltica tentou fazer a travessia marítima para ajudar na batalha, no entanto, depois de vários percalços no caminho, foi aniquilada pelos japoneses na batalha do estreito de Tsushima. Em terra, as tropas russas estavam desprovidas de mantimentos devido a uma avaria na linha férrea trans-siberiana. A guerra terminou com a derrota da Rússia após a queda do Porto Artur em 1905.


Ataque ao Porto Artur

A posição de Nicolau na Guerra foi algo que enforeceu muitos. Pouco antes do ataque japonês ao Porto Artur, Nicolau manteve firmemente a sua crença de que não haveria guerra. Sentia que havia um poder divino a governar e proteger a Rússia e que impediria qualquer tipo de guerra com o Japão. Apesar das muitas derrotas, Nicolau continuou a acreditar numa vitória. Muitas pessoas viram a confiança e teimosia do czar como um sinal de indiferença, achando-o impenetrável. À media que a Rússia continuava a ser derrotada, as vozes pedindo paz começavam a aumentar. A própria mãe do czar, bem como o seu primo Guilherme II, pediram a Nicolau que abrisse negociações de paz, mas apesar de todos os esforços, este continuou a sua estratégia. Apenas quando a frota russa foi totalmente eliminada a 28 de Março, Nicolau decidiu dar inicio ao processo de paz.

Como resultado, o orgulho russo ficou severamente afectado e a popularidade de Nicolau II sofreu mais um grave golpe com várias greves e manifestações que assolaram o país entre 1905 e 1906. Durante a época de tumulto, o tio do czar, o grão-Duque Sérgio, foi morto por uma bomba quando saía do Kremlin.


Grão-Duque Sergei Alexandrovich

No dia de Epifania, a 19 de Janeiro de 1905, decorreu a tradicional Bênção das Águas em frente do Palácio de Inverno. Como era hábito, foi construído um pódio para o czar, alguns membros da corte e do clérigo enquanto que outros membros da família real assistiam à cerimónia das janelas do palácio. A cerimónia começou com uma saudação de canhão que acabou por aterrar perto do czar e feriu um polícia. Mais tarde outras balas de canhão acabariam por ferir um Administrador e partir várias janelas do palácio (uma delas quase vitimou a mãe e a irmã de Nicolau, Olga que estavam a poucos metros de distância de uma das janelas). Apesar de tudo, o Imperador manteve a mesma postura desde o inicio da cerimónia. Quando finalmente chegou ao palácio disse à sua irmã Olga: “Eu sabia que alguém me estava a tentar matar e limitei-me a fazer o sinal da cruz. O que mais podia fazer?”. A grã-duquesa comentou mais tarde que, “era típico do Nicky. Ele não sabia o que significava ter medo. Por outro lado, parecia que ele sempre tinha aceitado que acabaria por perder a vida.

No dia 21 de Janeiro de 1905, um padre chamado George Gapon informou o governo de uma marcha que se realizaria no dia seguinte e perguntou se o czar estaria presente para receber uma petição. Os ministros reuniram-se apressadamente para ponderar sobre o assunto. Nunca se pensou que o czar, que estava em Czarskoe Selo e não tinha sido informado de nenhuma marcha nem petição, iria realmente receber Gapon. A sugestão de que outro membro da família imperial deveria receber a petição foi também rejeitada. Por fim, informado de que tinha poucos meios para travar a marcha e prender Gapon, o novo ministro do interior e os seus colegas não pensaram em mais nada senão chamar tropas adicionais à cidade e esperar que nada se descontrolasse.


Domingo Sangrento

Nessa noite, Nicolau soube pela primeira vez por esse ministro o que iria acontecer no dia seguinte e escreveu no seu diário, “As tropas foram trazidas de fora da cidade para apoiar as locais. Até agora os trabalhadores têm-se mantido calmos. Em estimativa são cerca de 120,000. A chefiar a sua união está uma espécie de padre socialista chamado Gapon. O Mirsky (ministro do interior) veio encontrar-se comigo esta noite para me apresentar o seu relatório sobre as medidas a ser tomadas.

No dia seguinte aconteceria o trágico “Domingo Sangrento” onde milhares de manifestantes foram mortos pelas tropas do czar que guardavam o Palácio de Inverno.

Em Czarskoe Selo, Nicolau ficou chocado quando soube o que tinha acontecido e escreveu no seu diário, “Um dia doloroso. Desordens sérias aconteceram em São Petersburgo quando os trabalhadores tentaram entrar no Palácio de Inverno. As tropas foram forçadas a disparar em várias partes da cidade e há muitos feridos e mortos. Senhor, quão doloroso e triste isto é.


O “Domingo Sangrento” tornou-se num ponto de viragem na História Russa. Abalou irremediavelmente a antiga crença de que o povo e czar eram um só. Enquanto as balas faziam ricochete nos seus ícones, retratos e bandeiras de Nicolau II, as pessoas gritavam que o czar não as iria ajudar. Fora da Rússia, mo futuro Primeiro-Ministro trabalhista britânico, Ramsay MacDonald atacou o czar, chamando-o de “criatura coberta de sangue” e “assassino banal”.


Domingo Sangrento

A grã-duquesa Olga Alexandrovna descreveu o que aconteceu nesse dia com o seu irmão, “O Nicky recebeu o relatório político alguns dias antes. Naquele Domingo ele telefonou à minha mãe e disse-lhe que ambas tínhamos de abandonar Gatchina depressa. Ele e a Alicky (Alexandra) foram para Czarskoe Selo. Que me lembre o meu tio Vladimir e o meu tio Nicolau eram os únicos membros da família que restavam em São Petersburgo, mas talvez houvesse outros. Na altura senti que todas as medidas tomadas estavam completamente erradas. Os ministros do Nicky e o Chefe da Polícia fizeram tudo à maneira deles. A minha mãe e eu queríamos ficar em São Petersburgo e enfrentar a multidão. Tenho a certeza de que, pelos modos grotescos de alguns dos trabalhadores, a presença do Nicky teria acalmado os ânimos. Eles teriam entregue a sua petição e voltado para casa, mas aquele acontecimento quase Epitáfio deixou todos os guardas em estado de pânico. Estavam sempre a dizer ao Nicky que ele não tinha o direito de correr tamanho risco, que o país merecia que ele saísse da capital, que mesmo com as melhores medidas de protecção haveria sempre perigo. A minha mãe e eu fizemos os possíveis para o convencer de que os conselhos dos ministros estavam errados, mas o Nicky preferiu segui-los e foi o primeiro a arrepender-se quando soube as trágicas consequências.”

Domingo Sangrento
Sob pressão depois da chamada Revolução Russa de 1905, Nicolau II concordou em formar uma espécie de parlamento, a Duma, que inicialmente se pensava ser apenas um órgão de conselho. A irmã do czar escreveu: “Todos estavam deprimidos em Czarskoe Selo. Eu não percebia nada de política, apenas senti que tudo estava a correr mal no país e com todos nós. A constituição de Outubro não parecia satisfazer ninguém. Fui com a minha mãe à primeira Duma. Lembro-me do grande número de deputados, muitos deles camponeses e operários. Os camponeses pareciam zangados, mas os operários eram ainda piores: olhavam-nos como se nos odiassem. Lembro-me da agonia nos olhos da Alexandra.” O Ministro da Corte, o conde Fredericks, comentou, “Os deputados dão a impressão de ser um grupo de criminosos que está apenas à espera de um sinal para se atirarem aos ministros e cortar-lhes a garganta. Nunca mais me vou juntar a estas pessoas.” A mãe do czar reparou no “ódio incompreensível”.

Nicolau II a discursar na primeira sessão da Duma. À esquerda é possível ver vários membros da família Romanov, incluindo a imperatriz Alexandra, a imperatriz-viúva Maria Feodorovna com as filhas Xenia e Olga, a grã-duquesa Maria Vladimirovna entre outras
No manifesto de Outubro, o czar anunciou que seriam introduzidas liberdades cívicas,  que iria providenciar grande participação nas discussões da Duma e dar-lhe  poderes legislativos. Contudo, determinado a preservar a “autocracia” mesmo durante um contexto de reforma, restringiu a autoridade da Duma em muitos sentidos.

A relação de Nicolau com a Duma não era boa. A primeira Duma entrou quase imediatamente em confronto com ele, exigindo sufrágio universal, reformas laborais radicais, a libertação de todos os prisioneiros políticos e o despedimento dos ministros nomeados pelo czar por ministros escolhidos pela própria Duma. Apesar de inicialmente Nicolau ter uma boa relação com o seu Primeiro-Ministro, Sergei Witte, Alexandra não confiava nele (por este ter ordenado uma investigação a Rasputine), e, à medida que a situação política se deteriorava, Nicolau decidiu dissolver a Duma.

A Duma estava cheia de radicais, muitos dos quais queriam mudar profundamente a legislação que abolia o direito a propriedade privada entre outras medidas. Witte, incapaz de resolver os problemas e de liderar uma reforma na Rússia e na monarquia, escreveu ao czar no dia 14 de Abril de 1906, demitindo-se do seu posto (outros dizem que este foi forçado a demitir-se pelo Imperador).

Sergei Witte

Uma segunda Duma reuniu-se pela primeira vez em Fevereiro de 1907. Os partidos de esquerda, incluindo os Sociais Democratas e os Socialistas Revolucionários que tinham boicotado a primeira Duma, tinham ganho 200 lugares na segunda, mais de um terço de todos os participantes. Novamente Nicolau esperou impacientemente para se livrar deles. Em duas cartas que escreveu à sua mãe, confessou o seu ressentimento, “Uma comitiva grotesca está a chegar da Inglaterra para se encontrar com os membros liberais da Duma. O tio Bertie [Eduardo VII do Reino Unido] pediu desculpa, mas não podia fazer nada para impedir a vinda deles. A sua famosa “liberdade”, claro. Imagino como ficariam ofendidos se enviássemos uma comitiva à Irlanda para lhes desejar sucesso na luta contra o governo.” Um pouco mais tarde, Nicolau escreveu, “Ficaríamos todos satisfeitos se tudo o que é dito na Duma não saísse das suas paredes. No entanto cada palavra lá proferida aparece em todos os jornais que todos lêem avidamente no dia seguinte. Em muitos lugares a população está a agitar-se novamente. Começaram a falar novamente sobre terra e estão à espera para ver o que a Duma vai dizer sobre esta questão. Estou a receber telegramas de todo o lado, a pedir-me que a dissolva, mas é demasiado cedo para isso. Temos de esperar que eles façam algo estúpido ou maléfico e depois – bam! E eles desaparecem!

Nicolau II (dir.) com o seu tio, o rei Eduardo VII do Reino Unido, e o primo, o futuro rei Jorge V.

Depois da dissolução da segunda Duma em circunstâncias semelhantes, o novo Primeiro-Ministro, Pyotr Stolypin (que Witte descreveu como “reaccionário), mudou as leis eleitorais de forma a permitir que futuras Dumas fossem mais conservadoras e dominadas pelo partido conservador-liberal de Alexander Guchkov.

Stolypin, um brilhante político, tinha planos ambiciosos de reforma. Estes incluíam disponibilizar empréstimos para classes inferiores de modo a permitir que estes comprassem terra e, assim, criar uma classe camponesa leal à coroa.

Pyotr Stolypin

4 comentários:

  1. adorei as informaçoes contidas nesse site. nota dez

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  2. Olá!
    Adorei o conteúdo contido no site, muito melhor em vários aspectos do que a Wikipédia.
    Gosto muito dos Romanovs, não tem um dia se quer que eu não pesquise sobre as vidas deles...
    O jeito que comecei a gostar dos Romanovs é meio complicado e cômico ...
    Quando eu era criança, tipo 5-6 anos, tinhas diversos filmes de princesas, até que em um fatídico dia, meu pai chegou do trabalho com um filme, nem olhei a capa direito e coloquei no reprodutor.
    Logo que acabei de ver meu filme, minha mãe me perguntou o que eu tinha analisado,ela dizia que era para estimular a mente. Eu simplesmente respondi :
    " Eu vi um filme de uma suposta princesa chamada Anastasia, que acha que se chama Anya, que quer encontrar sua família, a todo custo ela conhece um cachorrinho e o chama de Poka ( não sei se escreve assim) no caminho conhece 2 charlatões um chamado Dmitri, eu um homem que já aparenta ter idade e bastante gordura.
    Eles a levam até uma antigalera rainha que já não desejava ver ninguém, mas viu ela acreditou na Anya por que possuia um colar".
    Continuei assistindo esse filme até meus 7-8 anos,já aprendendo a ler e escrever, pedi a minha mãe para me ensinar a mexer no computador. Ela me ensinou, e eu precurei sobre o filme "Anástasia" e descobri que era baseado nas histórias dos Romanovs, então abri outra janela do Google e pesquisei a palavra "Romanov".
    Várias coisas apareceram, eu logo li no site de pesquisa mais lido do mundo o Wikipédia. Li que a última família foi brutalmente assassinada.
    Fui ler todas as biografias da última família imperial da Rússia; as que mais me impressionaram foram as das grã-duquesas
    Me surpreendi com todas, não só por que eram crianças imperiais mas pela sua incrível beleza e personalidades diferentes; não que eu não tenha me interessado pelo czar, czarina ou nosso queridissimo Alexei.
    As grã-duquesas eram diferenças tanto em personalidade tanto em aparência; Gosto muito das garotas imperiais, mas quando pensei direito nelas, aquele menos me impressionou foi a 2° filha, Tatiana, eu achava que ela não tinha uma personalidade que a distinguia das irmãs, depois com mais pesquisas fui melhorando meu olhar com ela: Olga era a 2° mais baixa, sendo conhecida por querer ajudar os outros, tinha um temperamento dominador, era a mais inteligente das irmãs, tinha um aspecto russa; Tatiana era a mais alta, e equilibrada, tendo um cabelo negro, e traços de seus antepassados ingleses, era mais próxima da mãe; a 2° mais alta e mais bondosa, com os olhos maise bonidosos do que as irmãs, tinha um aspecto mais russo que nem a irmã Olga;Anástasia era a mais diabinho de todas o que a distinguia das irmãs; Gostaria que eles deixassem herdeiros! Como esses socialistas eram brútais!
    E uma das minhas frases favoritas:
    Deus salve o czar!

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    1. Ela deixou alguns herdeiros, um deles sou eu. Nossa família atualmente possuí apenas 11 integrantes, e estamos ansiosos para que Deus faça sua justiça, pois esses socialistas roubaram o que ele nos deu, apenas Deus tem o direito de retirar tal benção de nós. Logo menos estaremos de volta a ao nosso império e você será bem vindo lá

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